Eduardo de Almeida Reis – Pena Capital -14.09.2009
Indesculpável a reação da mídia diante da compra, pelo governo que nos ilumina, de um submarino atômico, mais quatro convencionais e 50 helicópteros. As críticas feitas ao pacote só podem ser atribuídas a um plano diversionista, desviando as atenções de uma verdade indiscutível: precisávamos, sim, de um submarino nuclear. Como será possível combater os exércitos bolivianos se não contarmos com o abençoado submarino?
O desperdício de bilhões de euros que poderiam ser aplicados em escolas, hospitais, estradas e geração de energia – tolice enfatizada pela mídia –, não resiste à análise de um menino matriculado no primeiro ano do primeiro grau. Mesmo que o Brasil não tivesse o dinheiro, seria o caso de recorrer a um empréstimo do BCG, o Banco Central da Guiana, para comprar o submarino. Henrique Meirelles, presidente do nosso BC, fala inglês e fala bem. O idioma oficial da Guiana é o inglês. Numa estada de meia hora em Georgetown, capital guianense, Meirelles descolaria os cobres necessários para comprar 10 submarinos atômicos.
Em contrapartida, ofereceria à Guiana um pacote de 20 templos da bispa Sônia e do apóstolo Hernandes, que rezam com a ministra Roussef e podem assegurar a presença de Kaká na inauguração dos edifícios. O simpático país tem tradição religiosa. Foi lá, na comunidade de Jonestown, que o pastor Jim Jones promoveu o suicídio coletivo de novembro de 1978, mandando 914 fiéis desta para a pior, a maioria tomando veneno, uns poucos ajudados pelos tiros nas cabeças.
Presumo que o leitor esteja encucado com a serventia de um submarino atômico para solucionar o problema Evo Morales, quando se sabe que o cocalero vive em La Paz, cidade situada 3625 metros acima do nível do mar. Nada mais fácil. Até Corumbá, MS, o submarino viaja submerso. Se o rio não dispuser de profundidade, temos empreiteiras em condições de fazer a dragagem do seu leito.
De Corumbá, morro acima, o submarino vai de trem até La Paz. Houve precedente durante o regime militar de 64, quando um jornalista – texto brilhante, doce figura – levou uma pistola de Corumbá para os exilados brasileiros na capital boliviana. Não invento: de trem… uma pistola! Ele próprio contou a aventura, bebendo uísque aqui em casa. Está vivo, escrevendo cada vez melhor, tanto assim que o seu texto é citado como exemplo nos cursos de jornalismo.
Foi dos feitos mais extraordinários da história: conduzir uma pistola na contramão, considerando que todas as armas clandestinas nos chegavam e nos chegam da Bolívia e do Paraguai. Episódio que merece livro e filme, até porque o jornalista encontrou de cuecas (fazia calor), no apartamento em que se escondiam os exilados, um dos mais famosos políticos deste país grande e bobo. Os personagens aí estão e o submarino foi encomendado. Lá mesmo, ainda embarcado no trem, destrói a Bolívia e salva o Pré-Sal. O resto se vê depois.