Sempre me incomodou muito quando eu ouvia esta palavra durante a campanha eleitoral e eu não sabia o porque.
Hoje recebi da Ana Paula uma explicação dada pelos professores Antonio Oirmes Ferrari, Maria Helena e Rita Pascale.
Confesso que não pesquisei se esta correto ou não, mas que me agradou saber que não existe esta palavra, me agradou.
Tenho notado, assim como aqueles mais atentos também devem tê-lo feito, que a candidata Dilma Roussef e seus sequazes, pretendem que ela venha a ser a primeira presidenta do Brasil, tal como atesta toda a propaganda política veiculada pelo PT na mídia.
Presidenta???
Mas, afinal, que palavra é essa totalmente inexistente em nossa língua?
Bem, vejamos:
No português existem os particípios ativos como derivativos verbais.Por exemplo: o particípio ativo do verbo atacar é atacante, de pedir é pedinte, o de cantar é cantante, o de existir é existente, o de mendicar é mendicante…
Qual é o particípio ativo do verbo ser? O particípio ativo do verbo ser é ente.
Aquele que é: o ente. Aquele que tem entidade.
Assim, quando queremos designar alguém com capacidade para exercer a ação que expressa um verbo, há que se adicionar à raiz verbal os sufixos ante, ente ou inte.
Portanto, à pessoa que preside é PRESIDENTE, e não “presidenta”, independentemente do sexo que tenha.
Se diz capela ardente,e não capela “ardenta”; se diz estudante, e não “estudanta”; se diz adolescente, e não “adolescenta”; se diz paciente, e não “pacienta”.
Recebi o texto em questão e, minha amiga e professora Delinha, Mestre em Linguística, se deu ao trabalho de comentar o seguinte:
UM POUCO MAIS DE “CULTURA LINGUÍSTICA” PODERÁ NOS FAZER PENSAR…
Julguei excelente esse texto (concordo: Essa é boa!), por uma única razão: ele permite que nós, linguistas, trabalhemos um posicionamento baseado, por exemplo, na Sociolinguística (subárea da linguística cuja visão enxerga a língua como produto de interação entre os indivíduos, portanto passível de variações). E mais: essa vertente não trata a língua em tom de preconceito ou como se houvesse uma única possibilidade de uso – uma só forma de nomear os seres que compõem o universo linguístico (referência ao léxico de circulação). Observemos, por exemplo, a importância que ganharam os atlas linguísticos nessas últimas décadas. Uma das razões possíveis poderia ser: a diversidade de falares do nosso povo tornou relevante um mapeamento dessa real situação linguística, para ampliar o conhecimento das possibilidades de uso por parte dos cidadãos, que habitam as diferentes regiões do nosso país.
Analisemos um primeiro aspecto dessa abordagem: se observarmos, atentamente, até mesmo sem muita noção das teorias linguísticas; perceberemos existir duas variantes linguísticas concorrentes, no Brasil, para o gênero dessa palavra: presidente / presidenta. E elas disputam espaço, nesse momento histórico, em que um partido, nascido do útero popular desta nação, encontra-se no poder; portanto necessário reconhecermos maior informalidade nos textos construídos por membros do PT, ou seja, da população (hipótese: origem popular). E mais: verificaremos – caso estejamos de posse dessa informação – que os gêneros textuais em que essas duas palavras circulam são, principalmente, a entrevista e o discurso político, os quais, no âmbito da sua construção, carregam fortes marcas da oralidade.
Por outro lado, se pensarmos a língua como uma forma fixa, de uma única face, pré-determinada, sem atuação do falante; enfim, estática – escolheremos a primeira flexão: “presidente”. Mas essa escolha poderá ter, no mínimo, três motivações: uma visão limitada sobre possibilidades de uso da língua; uma postura preconceituosa de que exista uma “forma correta de falar”; ou, ainda, a necessidade de nos basearmos em um contexto que exija de nós maior grau de formalidade.
E se for essa última ideia a responsável por nortear nossa escolha vocabular; conceberemos a língua como produto de relações sociais e concentraremos atenção no ato interativo-textual. E, nesse caso, o uso dessa palavra não se baseará apenas na rigidez da língua escrita (até porque essa palavra circula em dois níveis: fala e escrita; com predominância da primeira – a fala) como aconteceu na entrevista de Bonner com Dilma Rousseff, no Jornal Nacional, no dia primeiro de novembro de 2010; mas também no contexto de produção.
Além disso, podemos tomar por recurso um argumento de autoridade. Um dos mais ilustres filólogos desse idioma, na forma brasileira de uso, no Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (HOUAISS, 2001, pág. 2.292) apresenta entrada para o verbete “presidenta” com a seguinte explicação:
presidenta s.f. 1. mulher que se elege para presidência de um país [a.p. da Nicarágua]. 2. mulher que exerce o cargo de presidente de uma instituição [a.p. da Academia de Letras]. 3. mulher que preside (algo) [a.p da sessão do congresso]. 4. p. us. esposa do presidente *ETIM fem. de presidente . Ver sed(i) –
Falta-nos entender que não podemos sair por aí espalhando ideias que não se sustentam dentro do contexto atual de estudos da nossa língua. E mais grave: sem assumirmos autoria pelas opiniões que fazemos circular (ref. direta à autoria do texto; não a quem me enviou este e-mail) – o que demonstra desrespeito com quem pesquisa os usos da língua portuguesa brasileira.
Todavia, nem tudo se perde nesse universo de ignorância, pois o e-mail recebido instigou-me à reflexão; fez-me pensar nessa visão amadora e contra-argumentar, primeiramente, em defesa da nossa “presidenta” – a mulher mais importante, em 2010, por ter conquistado o mais elevado cargo político dessa nação; depois, em defesa da língua (se é que ela clama por defesa), pois “um pouco de pesquisa só melhora a forma de interpretar o mundo da palavra escrita ou falada”. Enfim, tomei essa iniciativa pelo prazer de me contrapor a esse olhar de castração do conhecimento (sem base argumentativa aceitável) por considerar-me livre de preconceito linguístico; por acreditar na voz de milhões de brasileiros e, principalmente, por acreditar na atuação política futura dessa mulher, na esperança em dias melhores para o nosso país; para “seguirmos mudando” para uma partilha mais justa de direitos.
Enfim, sendo a língua um objeto de estudo dependente do tempo, do espaço, da escolaridade, da condição econômica, da situação em que se encontram os interlocutores; essa ideia defendida, abaixo – no texto desse autor enigmático (porque não há nome do autor) – demonstra ser preconceituosa; destituída de embasamento científico – portanto, não merece ser deixada de lado, sem que, contra ela, nos posicionemos.
Obrigada pela atenção,
Delinha
Presidente ou presidenta? Tanto faz. Só espero que seja competenta, não precisando ser excelenta, mas que não seja medíocra…
Rs..Excelente comentário Leandro ! Concordo com vc em gênero, número e Grau !!