Consumismo

Eduardo de Almeida Reis – Coluna Tiro & Queda – Estado de Minas – 15.12.08

Que levaria um sujeito de classe média, supostamente normal, à compra de um segundo e terceiro relógios, quando já tem um que funciona perfeitamente? Foi a pergunta que me fiz ao descobrir que tinha quatro relógios de pulso, todos ótimos, todos dignos do pulso de um philosopho.
Assustado, tratei de doar dois e fiquei felicíssimo com os restantes, até encontrar um terceiro, funcionando perfeitamente, guardado na gaveta da mesinha de cabeceira há mais de um ano. Tudo bem: tenho três, o que já seria um exagero, não fosse a leitura do último número da revista “Cigar aficionado”, qualquer coisa como entusiasta de charutos. A revista é norte-americana. Aficionado, em inglês, também significa entusiasta, foi pescado no espanhol do meado do século 19, que, por sua vez, veio do latim “affection”, di-lo Bill Gates.
Acontece que os norte-americanos aficionados por charutos têm bala, chumbo grosso que não se compara com o polvorim de um philosopho. Oba! encontrei polva no VOLP, edição de 2004, o que me faz supor que exista o diminutivo polvinha, que a gente escuta na roça. Portanto, onde se lê o polvorim, leia-se a polvinha de um philosopho.
Vai daí que os relógios anunciados na revista são de embasbacar muçulmanos, budistas, cristãos, israelitas, hinduístas e ateus. Incluído numa das confissões da frase anterior, o philosopho desanda a pensar asneiras. Um Carl F. Bucherer, produzido em Lucerna desde 1919, não me serve porque tem pulseira de couro. O IWC Schaffhauser, que oferece Portuguese Perpetual Calendar (?), também tem pulseira de couro. O Chanel J12 Automatic, em aço negro, tem uns dourados que não me agradam, mas o Bell&Ross negro, ponteiros brancos, caixa e peças de titânio e fibra de carbono – é mais que um espanto: é a glória! Isto é, seria… se eu não fosse cavalheiro muito ajuizado.
Difícil, num Bell&Ross (www.bellross.com) é ver as horas, mas é a tal coisa: com um relógio daqueles, hora certa é um negócio absolutamente irrelevante.

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